terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Há histórias para contar...

"Quero poder reunir num dia todo o tempo de uma vida, longa e destemida, tal como aquelas que dão um bom par de horas num clássico de cinema. Mas, dispenso os resumos ou as visões simplificadas, quero que a vida emerja igual a si mesma, sem que se pareça a um simples facto histórico, mais ou menos marcante, que enriquece o nosso saber.
Deixo as frases poéticas para aqueles que as sabem construir, quando a mim, escolho as frases naturais que me habituei a utilizar. Toda a  história molda-se nas mãos de um bom contador, contudo a minha aspiração resume-se à verdade e nada mais. Não são as palavras que fazem os grandes heróis, mas a memória que temos deles..."

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Número «VI»




Deixa que o céu se solte sobre ti
Antes mesmo do pensamento te abrigar
Sobe uma escada, corre lá para fora
Roda sobre ti mesmo, entre pessoas
Vê como se desviam do teu toque quase inevitável
E deita-te entre o que mais aprecias
Sente a tua respiração exausta
O teu cabelo misturado
Sente o teu rosto sendo retocado
Deixa que te pinte e que te trace
Enquanto fica a momentos de ti
O teu próprio traço



sábado, 22 de janeiro de 2011

Número «V»




A luz desperta lá ao longe a memória
Nos recantos deixados gastos
De presenças de toques e de palavras
E mesmo lá no fundo, bem no cimo
O som se perpetua e se distingue
Aproxima-se do silêncio
Enquanto a memória se afasta das sombras
Na ausência de clarões reflectidos.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Número «IV»




Ontem foi o sonho e não o pensamento
Hoje seria o desejo e não o cansaço
Amanhã surgirá um projecto
E agora…
Depois

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Número «III»

Muitos falam, outros com mais tempo
Escrevem postais
Outros há que desviam o olhar
Ainda assim
Há diferença na tua presença
Mesmo que isso signifique correr a cortina
Para te deixar sair

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Número «II»

A escuridão oculta cada sentido
Permaneça no teu espaço minúsculo
A sua ausência

Número «I»

Precisar de um momento
Sentir num olhar o sabor
Esculpir num cristal com as mãos atadas
Ouvir um tom preciso do silêncio
Abrir uma janela e a porta
Lançar uns dados na equação quântica
Perfurar num recado a memória
Deitar num chão o pensamento

Fechar que seja
o livro

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Para lá do que recordo




É com certeza um daqueles dias que não recordarás ao longo da tua vida.
E serão muitos os dias como este.
E na minha curta existência já vivi alguns, muitos reconheço, como esse teu,
Se bem que já não me recordo muito bem.
Nem tudo o que vivemos se torna “memória”,
Longe de nós armazenarmos tudo o que vivemos…
Certos dias somos um rio
E apenas alguns momentos somos um quadro de artista
Que expomos nas galerias por onde passamos
Ainda que distraidamente. 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O observador solitário



Sento-me do outro lado da rua que tenho por hábito percorrer.
Observo, ao contrário, as pessoas que costumam partilhar o meu caminho.
Vendo-as com os seus passos apressados,
Quase me envolvo naquela mesma pressa de chegar a certo destino,
Sinto mesmo as suas cotoveladas, os seus encontrões contra o meu corpo.
Arrepio-me subitamente…
Concentro-me, mais uma vez…
Escorrego suavemente sobre o banco onde me encontro
E alcanço a segurança e todo o conforto,
Afinal, ainda estou aqui: Só.

domingo, 2 de janeiro de 2011

No começo, a noite


Hoje, a noite cai mais clara do que o normal.
O recorte do horizonte mantém o seu contraste,
Enquanto, mesmo no seu limite, a aguarela dourada se vai desbotando
Em suaves tons de violeta, ainda que incertos,
Pintados não se sabe muito bem de onde.
Quando tudo lá se imiscuiu numa mesma realidade
(pelo menos, assim parece)
A verdade é que perde algum do seu fascínio.
A multiplicidade dá lugar à imensidão,
E com um olhar, o desejo, e o ser mesmo, enchem-se de infinitas possibilidades
Mas, onde os passos se perderiam sem destino e sem morada própria.
A precisão daquele limite, ainda há pouco alcançado,
Prolonga-se pelo profundo vazio
Que para uns é tudo e para muitos é o medo de nunca mais regressar.